Síndrome do Ciclista! Será que você sofre disso???
- clinicaloremfisioterapia
- 12 de fev. de 2021
- 3 min de leitura

Há algum tempo tenho observado um crescente aumento das queixas dolorosas em pessoas que andam de bicicleta. Talvez porque, com a pandemia, as pessoas passaram a preferir usar um transporte ao ar livre ou talvez, simplesmente, porque eu mesmo passei a utilizar mais minha bicicleta e me deparei com mais pessoas que também a adotaram como alternativa para as atividades físicas nas academias.
O fato é que a bicicleta é uma excelente forma de atividade física, pois permite um bom trabalho cardiovascular, mantém ativa a circulação dos membros inferiores (que constituem nosso segundo coração) e permite uma certa diminuição do impacto sobre as articulações.
Porém, quando mal adaptada ergonomicamente ao corpo do ciclista, a bicicleta passa a exercer pressões inadequadas em certas partes assim como quando você usa um tênis inadequado, uma raquete de tamanho ou peso inadequados etc.
Hoje gostaria de falar especificamente sobre a “Síndrome do Ciclista” ou cientificamente conhecida como Neuralgia do Pudendo. Esta é uma lesão que acomete 60 a 70% dos ciclistas habituais (>400Km/semana). Ao pedalar em posição sentada, sobre assentos estreitos e duros durante muito tempo, a pressão e/ou fricção sobre a região do períneo (região onde ficam localizados os órgãos genitais) é intensa e acaba gerando, de forma direta ou indireta, a compressão do nervo pudendo, numa região chamada Canal de Alcock. Esta pressão constante acaba irritando a região e produzindo uma reação inflamatória, que muitas vezes se converte em fibrose, alterando a movimentação normal dos músculos do quadril e da coluna, além de outras consequências neurais como perda ou alteração da sensibilidade da região do períneo, ou vasculares como a incapacidade de manter a ereção.
Para evitar que a lesão apareça, é necessário escolher assentos adequados para o seu tamanho. Pessoas que tem quadris maiores necessitam mais área para acomodar-se, mas quando você for sentar sobre o assento, nunca deverá sentir pressão sobre os órgãos genitais. Aqueles assentos mais finos na parte da frente são perigosos para isso.
Outra dica é observar a altura e distância do assento em relação à mesa. Para verificar a altura correta, sente-se sobre a bike e apoie seu calcanhar no pedal de forma que o joelho desta perna fique quase esticado.

A distância do assento à mesa deve ser regulada de forma que, ao posicionar o pedal às 9h, com o pé na posição de impulsão, uma linha imaginária deverá ligar a patela ao apoio do pé no pedal.

As pesquisas mostram que posicionar-se em pé por mais de 20% do tempo de pedalada reduz de forma importante o risco de dormência. Aconselhamos também que você faça intervalos entre seus treinos para dar tempo do corpo se recuperar das microlesões ocorridas neles.
Quando os sintomas já ocorreram, é possível, através de manobras osteopáticas específicas, liberar manualmente as tensões desta região facilitando o fluxo nervoso e vascular. Por fim, caso você sinta desconforto para urinar, dificuldade de manter a ereção, dormência na região genital procure um médico ou fisioterapeuta especializado para ajudar você a tomar os caminhos corretos para a sua terapêutica.
Mas não se esqueça, continue se movimentando enquanto se recupera. Se não der pra andar de bicicleta, tente outra atividade até que você esteja liberado para pedalar novamente... A gente se vê!
Mohannad A. Awad, Thomas W. Gaither, Gregory P. Murphy, Thanabhudee Chumnarnsongkhroh, Ian Metzler, Thomas Sanford, Siobhan Sutcliffe, Michael L. Eisenberg, Peter R. Carroll, E. Charles Osterberg, Benjamin N. Breyer, Cycling, and Male Sexual and Urinary Function: Results from a Large, Multinational, Cross-Sectional Study, The Journal of Urology, Volume 199, Issue 3, 2018, Pages 798-804
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